Wednesday, February 27, 2019

Especialistas: Rafael Araújo

Convidado pela GloboNews para comentar o caos na Venezuela, o professor da UERJ conseguiu a proeza de fazer uma longa análise sobre a situação no país citando Donald Trump quatro vezes, falando do muro com o México e de um imaginário impeachment do presidente americano, mas sem mencionar uma única vez Nicolás Maduro e a violenta opressão de seu próprio povo.



Em outro momento da "análise", Rafael Araújo finalmente lembra da existência de Maduro, mas apenas para fazer um contraponto ao regime de Hugo Chávez, defendido com unhas e dentes pelo especialista. O sujeito ainda classifica a oposição Venezuelana, a mesma que foi duramente perseguida e punida por Chávez, de "golpista". Só faltou dizer que "Maduro deturpou o chavismo"...



Ao contrário do que diz o analista, o "democrático" Hugo Chávez foi responsável por uma fracassada tentativa de golpe de estado em 1992, tomou inúmeras medidas anti-democráticas, como controle de preços, confisco de bens e expropriações de empresas por motivos políticos.
Chávez estreou na vida pública com uma tentativa de golpe, no dia 4 de fevereiro de 1992. Golpe raiz, do tipo que é feito com farda, coturno e fuzil. A quartelada nunca mereceu uma autocrítica. Ao contrário, aliás. Nas eleições de 1998, os principais golpistas de 1992 estavam no palanque do coronel paraquedista (Andres Schafer, jornalista que filmou a propaganda eleitoral, conta os detalhes disso num texto saboroso publicado na Piauí).

Depois da vitória, o dia 4 de fevereiro se tornou o Dia da Dignidade Nacional. O chavismo celebrava o seu putsch. Reconhecia a baioneta como instrumento válido na disputa política. Quando Maduro disse que "o que não se pôde com os votos nós faríamos com as armas", estava apenas dando continuidade a uma concepção política que vinha de longa data.

Mas Chávez, bem ou mal, ganhou eleições (com 56% dos votos). Durante um bom tempo, aliás, foi extraordinariamente popular. Não quis, porém, governar com as instituições existentes.

Já na posse, em 1999, recusou-se a jurar a constituição. Declarou-a moribunda. Convocou um plebiscito para fazer uma nova. O homem realmente queria uma revolução. Venceu o plebiscito com folga.

Foi feita então uma nova eleição, desta vez para a escolha dos deputados constituintes. Outra vitória do chavismo, por ampla margem.

A nova assembleia cobriu-se de grandes poderes. Podia demitir juízes, dissolver a Assembleia Nacional (o parlamento ordinário, não constituinte) e também a suprema corte, que acabou sendo inteiramente substituída. Em menos de dois anos os chavistas controlavam o executivo, o legislativo e o judiciário. O sistema de freios e contrapesos, que existe justamente para impedir maiorias momentâneas de irem longe demais, estava sendo desativado.

O coronel recorria ao procedimento clássico de usar os mecanismos da democracia para solapá-la.

Vieram as cadeias nacionais de rádio e TV. A qualquer momento, Chávez interrompia a novela, o noticiário ou o programa de variedades para apresentar uma nova lei, andar de helicóptero, cumprimentar atletas olímpicos, discorrer sobre Simon Bolívar, falar por mais de duas horas em um supermercado popular, ou discursar por mais de três a uma plateia de estudantes.

O importante era mostrar exaustivamente o rosto e a voz do Comandante. Culto à personalidade, sem o menor pudor. De 1999 a 2013, houve 2.569 cadeias nacionais (uma a cada dois dias), com duração média de 43 minutos. Frequentemente, elas eram acionadas para impedir a transmissão ao vivo de protestos contra o governo.
 
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