Tuesday, January 22, 2019

Brian Winter entrevista Olavo de Carvalho - desonestidade ou incapacidade de compreensão?

Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly, conduziu uma das mais constrangedoras entrevistas dos últimos tempos, publicada sob o título de 'O Guru de Jair Bolsonaro', em 17 de dezembro de 2018.
"Em nossa conversa, Carvalho também justificou o assassinato em massa patrocinado pelo Estado no Brasil durante a última ditadura.
[...]
Quando nossa entrevista chegava ao fim, compartilhei minha maior preocupação sobre Bolsonaro: que seu governo pudesse atropelar instituições democráticas e causar a morte de inúmeras pessoas inocentes. Eu citei o lamento freqüente de Bolsonaro de que o "maior erro" da ditadura brasileira de 1964-1985 foi "torturar (pessoas) em vez de matá-las".

Carvalho riu. "Você sabe, às vezes eu penso assim."
"Oh, Olavo, por favor", eu disse.

Ele deu uma tragada no cachimbo. “Nós vemos toda a miséria que esses caras criaram. Olha, quantos comunistas estavam lá no Brasil naquela época? 20.000? Você mata 20 mil pessoas naquela época e economizaria 70 mil brasileiros por ano.”

A implicação era que, ao eliminar os esquerdistas na década de 1960, o Brasil poderia ter sido governado por pessoas mais virtuosas que nunca teriam permitido que as taxas de assassinato atingissem seu nível atual.

A implicação não era, como afirma o Winter, "que, ao eliminar os esquerdistas na década de 1960, o Brasil poderia ter sido governado por pessoas mais virtuosas que nunca teriam permitido que as taxas de assassinato atingissem seu nível atual", e sim que, a esquerda revolucionária a que Carvalho se refere, efetivamente se aliou a criminosos e criou legislação e idéias que promoveram tanto a romantização do crime quanto a vitimização dos criminosos.

Outro ponto, como o próprio Olavo explica, é a falta de capacidade de compreensão do jornalista, que o faz distorcer declarações claras:  
"Nada, absolutamente nada na língua portuguesa do Brasil permite admitir que a expressão “Às vezes chego a pensar que...” indique uma opinião atual, uma adesão formal ou uma crença firme, especialmente quando se trate de matéria grave. Bem ao contrário, a expressão designa a mera conjeturação de uma hipótese que não se incorpora às crenças atuais do falante. 
Ao fazer de mim o adepto do “assassinato em massa patrocinado pelo Estado”, você [Brian Winter] se mostrou incapaz de captar a nuance correta da declaração e, com isso, trouxe à minha reputação um dano injusto, de consequências provavelmente incalculáveis.

Pior ainda, minha conjetura se referia apenas a um caso determinado, à afirmação do sr. Jair Bolsonaro – ela própria hiperbólica e não necessariamente literal -- de que a ditadura militar brasileira deveria ter matado comunistas em vez de torturá-los. Você não apenas fez da minha conjetura uma adesão formal a essa idéia, mas deu a ela um alcance ampliado e universal, transformando-me num adepto doutrinário do genocídio estatal em geral. É uma distorção monstruosa."

O jornalista ainda justifica sua "maior preocupação" – que um governo liderado por Bolsonaro "pudesse atropelar instituições democráticas e causar a morte de inúmeras pessoas inocentes" – usando uma afirmação em que Bolsonaro se referia especificamente ao caso de terroristas revolucionários ligados a ataques a bomba e assassinatos de policiais, militares e civis.

A entrevista foi tão problemática que até veículos críticos a Bolsonaro e Olavo de Carvalho – como a própria Época, onde um artigo duvidoso do jornalista foi recentemente publicado – a ignoraram por completo.



  

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